15 setembro, 2007
And the Oscar goes to...
"Diário de Um Skin" é a confissão autêntica de quem conseguiu, pela primeira vez, infiltrar-se, sem levantar suspeitas, num grupo tão perigoso como este que não perdoa qualquer tipo de erro. Munido de uma câmara oculta e protegido por uma identidade falsa, construiu uma personagem suficientemente credível que lhe permitiu ganhar a confiança dos seus pares e viver durante algum tempo dentro da terrível realidade dos cabeças-rapadas.
O orgulho e os sentimentos de ódio dos ultra, os actos violentos em que participam, a sua implicação nas querelas futebolísticas e as suas alianças com grupos internacionais através da Internet são, entre outros, os temas através dos quais se desenvolve este relato.
Mas quando Nina e o marido descobrem que o seu filho de 5 anos foi vítima de abuso sexual, essa distância é impossível de manter e sente-se impotente perante um sistema legal ineficiente que conhece demasiado bem. De um dia para o outro o seu mundo desmorona-se e a linha que separa a vida pessoal da vida profissional desaparece. As respostas que Nina julgava ter já não são fáceis de encontrar. Tomada pela raiva e pela sede de vingança, lança-se num plano para fazer justiça pelas próprias mãos e que a pode levar a perder tudo aquilo por que sempre lutou.
O livro perpassa por traições, interesses, escolhas, religiosidade, arrependimentos e acertos para, mais tarde, como se a narrativa caminhasse na roda da fortuna, recair no amor. Esse é o fato inusitado em "Fazes-me Falta": tudo tem como pano de fundo o amor, independente da máscara que vista, seja o amor-afeto, amor-amigo ou amor-erótico, num eterno rolar da pedra de Sísifo.
Na intimidade do diário é possível flutuar de um mundo ao outro, conhecer alguns segredos sobre a morte e, principalmente, tirar um grande aprendizado: o que fazer da vida quando uma parte de nós deixa de viver? “Quando morre alguém uma parte de nós é obrigada a morrer e renascer”.
05 setembro, 2007
Flying back home...
Arrumei os amores, é a primeira regra da vida - saber arquivá-los, entendê-los, contá-los, esquecê-los. Mas ninguém nos diz como se sobrevive ao murchar de um sentimento que não murcha. A amizade só se perde por traição - como a pátria.
Como é que, de um dia para o outro, a tua voz deixou de me procurar, e eu deixei que a minha vida dispensasse o espelho da tua?
Passávamos horas ao telefone. A repetir ao pormenor todas as novidades do dia. A especular sobre as causas ocultas de cada gesto ou palavra dos nossos amantes. A projectar obras grandiosas que nos elevariam ao Olimpo da inteligência. A anotar os pormenores maus das pessoas boas. A esfaquear metodicamente as pessoas más. A fazer de conta que éramos os melhores e os piores do mundo. A escutar em estereofonia a faixa mais bonita do mais recente disco de cada um. Por isso nunca fui capaz de perceber as distinções entre conversas de homem e conversas de mulher. Tu eras tão mulher como eu, eu era tão homem como tu - e cada um de nós tinha sexo, claro, tudo entre nós era sexo...
Fazes-me Falta, Inês Pedrosa