28 maio, 2005



Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu...

Tornam-os pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.


Alberto Caeiro

21 maio, 2005

A Home at the End of the World


Family can be whatever you want it to be

Um filme a não perder!!!! Muuuuito bom!

Realizador: Michael Mayer
Actores: Colin Farrell, Robin Wright Penn, Sissy Spacek, Dallas Roberts

Bobby e Jonathan conhecem-se numa escola dos subúrbios de Ohio nos anos 60. A partir desse momento, tornam-se inseparáveis. Para Jonathan, o pouco convencional Bobby é a ligação para um mundo mais vasto. Para Bobby, a família de Jonathan, em especial a sua mãe, representa uma certa estabilidade que ele nunca conheceu. Os rapazes crescem separados e reencontram-se vinte anos mais tarde em Nova Iorque onde conhecem a liberal Clare. A sua amizade torna-se um triângulo amoroso e aprendem o que é o amor, o compromisso e a lealdade, inventando uma nova espécie de família. Juntos, vão ter de se enfrentar uns aos outros enquanto se apercebem de que tudo o que têm pode não ser aquilo que desejavam. Baseado num romance de Michael Cunningham. Este é o filme de estreia de Michael Mayer.

17 maio, 2005

Ao Fim

Ao fim são muito poucas as palavras
que nos doem a sério e muito poucas
as que conseguem alegrar a alma.
São também muito poucas as pessoas
que tocam nosso coração e menos
ainda as que o tocam muito tempo.
E ao fim são pouquíssimas as coisas
que em nossa vida a sério nos importam:
poder amar alguém, sermos amados
e não morrer depois dos nossos filhos.

Amalia Bautista

14 maio, 2005

Valsinha


Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumara olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, para seu grande espanto convidou-a p'ra rodar...
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a s'abraçar
E aí dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos
Como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz.

Vinicius de Moraes

13 maio, 2005



Deus escreve direito por linhas tortas
E a vida não vive em linha recta
Em cada célula do homem estão inscritas
A cor dos olhos e a argúcia do olhar
O desenho dos ossos e o contorno da boca
Por isso te olhas ao espelho:
E no espelho te buscas para te reconhecer
Porém em cada célula desde o início
Foi inscrito o signo veemente da tua liberdade
Pois foste criado e tens de ser real
Por isso não percas nunca teu fervor mais austero
Tua exigência de ti e por entre
Espelhos deformantes e desastres e desvios
Nem um momento só podes perder
A linha musical do encantamento
Que é teu sol tua luz teu alimento.

Sophia de Mello Breyner Andresen

12 maio, 2005

Tempo Branco

A felicidade não é um estado permanente, definitivo.
Não são as situações firmes, seguras, prolongadas, que desencadeiam num ser esse processo rápido e possante que faz brilhar os olhos e abrir os lábios num sorriso franco.
Nem são, tão pouco, situações que vão ficar gravadas na memória e no coração como estrelas cintilantes no céu velado da existência.
São momentos...
Momentos feitos dessa substância etérea, sublime e fugaz...
Momentos que se evadem no tempo e no espaço deixando poeiras enfeitiçadas aqui e ali...
Momentos passados... manchas de luz nas paredes, outrora vazias, de uma alma sombria.
Momentos fugidios... oscilando entre o imenso e o minúsculo, construindo uma vida e repartindo-a em mil pedaços.
Momentos que tocam o mais íntimo, como um relâmpago veloz, que parte logo depois de deixar o corpo a tremer numa alegria louca ou os olhos pasmados num transe calmo de felicidade.
E é através deles que recordamos tudo o que foi belo, tudo o que foi forte, tudo o que foi grande; tudo o que devemos, realmente, considerar como a nossa vida.
E são eles que perduram quando tudo o resto foi levado pelo tempo, pela própria vida...
E são eles que devemos recordar porque a mágoa de um passado é sempre amena; um misto de dor, saudade e sentimento, a luz que nos guia num futuro, lembranças que, ao recordarem-nos o que fomos, nos dão a certeza de que ainda somos e continuaremos a ser... alguma coisa... que vale sempre a pena!

10 maio, 2005

FORA DE HORAS



Permanecia entre os dois uma inesperada facilidade de comunicar.
Como se os pressupostos de que partíamos fossem os mesmos.
Como se o essencial não precisasse ser explicado.
Como se tivéssemos entrado no jogo da vida instruídos com as mesmas regras.
Como se nunca houvesse necessidade de nos justificarmos um ao outro.

05 maio, 2005

03 maio, 2005

If there's one thing searier than being unhappy, it's being happy.
You know no good will come of it.
It'll end in tears.

02 maio, 2005

Apanha-se um comboio para se chegar a uma cidade.
Apanha-se a morte para se chegar a uma estrela.
Vincent Van Gogh


"Negociante de arte, Theo Van Gogh (1857-1890) morreu seis meses depois do seu irmão, o genial Vincent, se ter suicidado. Os últimos meses de vida viveu-os numa depressão profunda provocada pelo desaparecimento do irmão. Graças aos seus contactos no mundo da arte, foi Theo quem apresentou Vincent aos grandes artistas de Paris, como Matisse, Gaughin ou Toulouse-Lautrec. Era ele também quem sustentava financeiramente e vendia as obras do grande pintor expressionista. O enredo do monólogo Vincent começa na semana seguinte à morte do pintor. Theo junta um grupo de amigos, a quem conta episódios da fascinante vida de Vincent Van Gogh, plena de obsessões e loucuras. Escrita por Leonard Nimoy (ele mesmo, o famoso Mr. Spock da “Guerra das Estrelas”) a peça estreou nos Estados Unidos em 1978, que a levou em digressão pela América durante três anos (Nimoy também a interpretava). Em 1990, António Feio pegou no texto e levou-o à cena no Teatro Nacional D. Maria II, com Virgílio Castelo como protagonista. A dupla reedita agora a experiência, que pode ser vista no Teatro Villaret a partir do próximo dia 4 de Maio. “Vincent” baseia-se nas centenas de cartas trocadas entre o pintor e Theo durante 10 anos. O resultado é um espectáculo biográfico sobre um dos
mais importantes nomes da História da arte."