28 fevereiro, 2005

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

(Sophia de Mello Breyner)

27 fevereiro, 2005


A vida é uma pedra amolar:
desgasta-nos ou afia-nos,
conforme o metal de que somos feitos.

26 fevereiro, 2005

Longe...



Longe... é onde quero ir
Livre... já não há volta a dar
Errei, pequei, sofri e chorei
E já esqueci o que pensava recordar

Para bem longe eu me vou levar
Não adianta ficar presa a ti
Foste quem és, e nada vai mudar
E como eu queria saber ser assim...

Estou só triste...
Só sempre fui
E triste fiquei...

Estou longe...
Bem longe... daquilo
Que sempre desejei...

Fev 2004

22 fevereiro, 2005

Ódio por ele? Não... se o amei tanto,
Se tanto bem lhe quis no meu passado,
Se o encontrei depois de o ter sonhado,
Se à vida assim roubei todo o encanto...

Que importa se mentiu? E se hoje o pranto
Turva o meu triste olhar, marmorizado,
Olhar de monja, trágico, gelado
Como um soturno e enorme Campo Santo!

Ah! Nunca mais amá-lo é já bastante!
Quero senti-lo doutra, bem distante,
Como se fora meu, calma e serena!

Ódio seria em mim saudade infinda,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda,
Ódio por ele? Não... não vale a pena.

Florbela Espanca

20 fevereiro, 2005

"They say it's the last song...
They don't know us, you see...
It's only the last song
If we let it be!"

Dancer in the Dark

18 fevereiro, 2005

Samba de Orly



Vai meu irmão
Pega esse avião!
Você tem razão
De correr assim
Desse frio...
Mas beija
O meu Rio de Janeiro
Antes que um aventureiro
Lance mão!

Pede perdão
Pela duração dessa temporada,
Mas não diga nada
Que me viu chorando...
E pros da pesada
Diz que eu vou levando...
Vê como é que anda
Aquela vida à toa,
E se puder me manda
Uma notícia boa!

17 fevereiro, 2005



Saudades! Sim... talvez... e porque não?...

Se o nosso sonho foi tão alto e forte

Que bem pensara vê-lo até à morte

Deslumbrar-me de luz o coração!

14 fevereiro, 2005

Bateu a Saudade...



"Olho-me ao espelho e vejo,
Vejo-me e já não sou:
falta-me a tua metade
que ontem me abandonou.

Falta-me a tua metade
que era parte de mim
e sinto já a saudade
daquele amor sem fim!

E enquanto relembro e choro
essa luz que já passou,
Olho-me ao espelho e vejo -
Vejo-me e já não sou!..."

Do meu Amigo Daniel Pinéu

13 fevereiro, 2005

Feliz Dia de S. Valentim



"Não ser amado é uma simples desventura.
A verdadeira desgraça é não saber amar."

(Autor desconhecido)

O Palhaço



"Quando o palhaço a dor num riso esculpe-a
e transmuda-a num ténue pranto, e vence-o,
sente, às vezes, aflição, uma volúpia
que o faz sofrer sorrindo ou em silêncio.

No picadeiro canta e rola e cala,
ninguém sabe quem é, qual o seu nome,
qual a família que a miséria embala,
quais os filhinhos, muita vez, com fome.

Conta histórias, alegre... e logo finda
Sorri e canta alguma coisa linda
Não tinha inspiração mas apelava.

E eu que, pasmado, tanto gargalhava,
fico confuso e mais surpreso ainda
Não sorria o palhaço, e sim, chorava."

12 fevereiro, 2005

Os meus Amigos

"Meus amigos são todos assim...
metade loucura,
metade santidade.

Escolho-os não pela pele,
mas pela pupila...

Tem que ter brilho questionador
e tonalidade inquietante
Fico com aqueles que fazem de mim
"louco" e "santo".

Deles não quero resposta,
quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias
e aguentem o que há de pior em mim.
Coisa de louco...

Louco que senta, horas e horas,
de conversa ou de silêncio
e espera a chegada da lua cheia...

Quero-os santos,
para que não duvidem das diferenças
e peçam perdão pelas injustiças.

Não quero deles só o ombro ou o colo
quero também sua maior alegria...
Amigo que não ri junto,
não sabe sofrer junto.

Meus amigos são todos assim:
metade bobeira, metade seriedade.
Quero amigos sérios,
daqueles que fazem da realidade
sua fonte de aprendizagem
Mas lutam para que a fantasia não desapareça.

Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e metade velhice.
Crianças, para que não esqueçam
o valor do vento no rosto...
E velhos, para que
nunca tenham pressa.

Preciso deles para saber quem eu sou,
pois os vendo loucos e santos,
bobos e sérios, crianças e velhos,
nunca me esquecerei que
a normalidade é uma ilusão... estéril!"

11 fevereiro, 2005

10 fevereiro, 2005

ÉDEN

"Quem pudera
- Na hora mais ditosa -
Segurar o Presente
Prendê-lo num abraço
A esse mundo tranquilo
Cortar as asas ao Tempo
Imobilizar o Espaço
... Eternizando assim
A paz e a alegria
Em que a vida era sempre Hoje
E o Futuro morria!"


de meu primo, Mário Pissarra