29 outubro, 2006

Inquieta Quietude



Não há nada de inquietante no Verdadeiro Amor.
No Amor há quietude.
Só se percebe o valor da difícil conquista
quando a quietude se despede
e se instala
uma inquietante solidão.
Podemos estar sós numa sala cheia de gente.
Podemos fazer por sorrir e por dentro
ser avassalador o sentimento de solidão.
Mas se amarmos e nos sentirmos amados dificilmente nos sentiremos sós.


Carmen Zagalo

17 outubro, 2006

Tenho saudades... se tenho...















Tenho saudades dos beijos e abraços que não te dei. E dei-te tantos.
Da urgência da conversa que teríamos inevitavelmente a qualquer pretexto.
Da forma terna e orgulhosa como me olhavas sempre. Nunca mais na vida ninguém me olhará assim.
Ultimamente, os teus olhos enchiam-se muitas vezes de lágrimas - e eu por pudor, fingia que não reparava.
Sei agora que também tu, pressentindo o fim, antecipavas a falta que me irias fazer.
Antecipavas as minhas lágrimas e o nó na garganta, do pássaro preso que é a tua ausência.
Guardo com mágoa todas as palavras que não te disse. Todas as palavras de amor que não te disse me parecem muito mais importantes do que todas aquelas que juntos celebrámos.
E foram tantas.
No outro dia em tua casa, tropecei na tua ausência, caí e doeu-me tanto, tanto.
Encontrei um molho de cartas para mim. E canções para a pequenina. A nossa poesia, ali, dentro de uma pasta de papel reciclado. Declarações do teu amor, avô, às quais nunca poderei responder. Não estás cá.
Não estás cá.
Tenho tantas saudades tuas.
As lágrimas que tu antecipavas, pressentindo o fim, vieram nas asas do pássaro viver em mim.
E a poesia terá de renascer das saudades de todos os beijos e abraços que não te dei.

Rita Ferro Rodrigues

14 outubro, 2006


E quando me viro para te dizer adeus
a tua voz emudece,
o teu olhar cala-se também...
Fecham-se, por um momento as pálpebras
e lentamente uma lágrima escorrega
pelo rosto, lentamente...

Enquanto as almas se despedem
Enquanto a lágrima não chega ao chão

06 outubro, 2006

Ausência
















Não me deixes adormecer assim.
A tua ausência passeia-se zombeteira pela casa,
confunde-se com as minhas lágrimas no duche matinal,
arrasta-se comigo para a cama e deixa um profundo sulco na minha almofada.

Não me deixes adormecer assim.
A tua ausência desarruma-me os livros do escritório
e faz perdurar o cheiro frio do cinzeiro atulhado de angústia fumada.
A tua ausência empederniu os meus tão queridos livros de poesia
(agora as páginas teimam em não se deixar folhear, parecem mármores
colossais, cheias de símbolos indecifráveis).

Não me deixes adormecer assim ou então promete-me:
será este o último sono induzido pelo teu não-estar.
Amanhã,
quando eu acordar,
será a tua presença,
e não a tua ausência,
a dar-me um grande beijo de bom dia.

Rita Ferro Rodrigues