04 janeiro, 2011

Que a vida te seja leve
















Que encontres muitos amigos ao longo do caminho e sejas capaz de ser fiel a ti mesmo e aos teus princípios.

Que o amor te abrace uma e outra vez e, quando chegar aquele momento, aquela pessoa, que a saibas reconhecer e agarrar.

Que nunca faças nada de que os teus filhos um dia se possam envergonhar.

Pensa antes de agir, não desistas dos teus sonhos só porque os outros dizem que são impossíveis.

Luta pela vida e respeita o teu corpo.

Não desbarates a tua vida e a tua energia naquilo que é fácil, que é agradável e te traz alegria instantânea. Nada na vida se consegue sem luta. Recorda para sempre esta verdade e abraça os desafios como oportunidades.

Duvida dos elogios fáceis, afasta-te de quem fala por falar e tem sempre a boca cheia de palavras cruéis sobre os outros.

Não aceites as certezas da maioria. Luta pelo que acreditas, mesmo que te sintas só. Nada é tão importante como sermos verdadeiros connosco e olharmo-nos no espelho e não termos vergonha do que vemos.

Respeita a família. A tua e a dos outros.

Respeita os homens e mulheres que encontras todos os dias, vergados ao trabalho, porque são esses que te merecem.

Afasta-te sim de quem vive para as aparências, de quem julga o próximo seja através da religião, do sangue ou de qualquer outra premissa.

Recorda-te que todos têm medo de algo, e não te envergonhes de dizer o que temes.

Nunca mintas a ti próprio.

Não te esqueças que no caminho da vida irás muitas vezes escorregar e cair.

Por último, nunca duvides de que nenhum amor se compara ao que sentes pelos teus filhos. Que possas dizer no final da tia vida que fizeste tudo por eles, sendo justo mas firme.

E tudo terá valido a pena.



Luísa Castel-Branco, "Para ti, do fundo do meu coração"

01 dezembro, 2010

Ser livre...
















A pior prisão não é a que aprisiona o corpo,
Mas a que asfixia a mente e subjuga as emoções.
Sem liberdade, as mulheres retraem o seu prazer,
Os homens tornam-se máquinas de trabalhar.
Ser livre é não ser servo das culpas do passado
Nem escravo das preocupações do amanhã.
Ser livre é ter tempo para as coisas que se ama,
É abraçar, dar-se, sonhar, recomeçar.
É desenvolver a arte de pensar e proteger as emoções.
Mas, acima de tudo...
Ser livre é ter uma relação de amor com a própria vida.


Augusto Cury

11 novembro, 2010

Eu não sei quem te perdeu




















Quando veio,
Mostrou-me as mãos vazias,
As mãos como os meus dias,
Tão leves e banais.
E pediu-me
Que lhe levasse o medo,
Eu disse-lhe um segredo:
"Não partas nunca mais".

E dançou,
Rodou no chão molhado,
Num beijo apertado
De barco contra o cais.

E uma asa voa
A cada beijo teu,
Esta noite
Sou dono do céu,
E eu não sei quem te perdeu.

Abraçou-me
Como se abraça o tempo,
A vida num momento
Em gestos nunca iguais.
E parou,
Cantou contra o meu peito,
Num beijo imperfeito
Roubado nos umbrais.

E partiu,

Sem me dizer o nome,
Levando-me o perfume
De tantas noites mais.

E uma asa voa
A cada beijo teu,
Esta noite
Sou dono do céu,
E eu não sei quem te perdeu.



Pedro Abrunhosa

14 outubro, 2010

Eu sei...



















Se eu voar sem saber onde vou
Se eu andar sem conhecer quem sou
Se eu falar e a voz soar com a manhã
Eu sei...

Se eu beber dessa luz que apaga a noite em mim
E se um dia eu disser que já não quero estar aqui
Só Deus sabe o que virá, só Deus sabe o que será
Não há outro que conhece tudo o que acontece em mim

Se a tristeza é mais profunda que a dor
Se este dia já não tem sabor
E no pensar que tudo isto eu já pensei
Eu sei...

Se eu beber dessa luz que apaga a noite em mim
E se um dia eu disser que já não quero estar aqui
Na incerteza de saber o que fazer o que querer
Mesmo sem nunca pensar que um dia o vá expressar
Não há outro que conhece tudo o que acontece em mim


Sara Tavares

18 setembro, 2010



















Quem me quiser há-de saber as conchas
a cantiga dos búzios e do mar.
Quem me quiser há-de saber as ondas
e a verde tentação de naufragar.

Quem me quiser há-de saber as fontes,

a laranjeira em flor, a cor do feno,
a saudade lilás que há nos poentes,
o cheiro de maçãs que há no inverno.

Quem me quiser há-de saber a chuva

que põe colares de pérolas nos ombros
há-de saber os beijos e as uvas
há-de saber as asas e os pombos.

Quem me quiser há-de saber os medos

que passam nos abismos infinitos
a nudez clamorosa dos meus dedos
o salmo penitente dos meus gritos.

Quem me quiser há-de saber a espuma

em que sou turbilhão, subitamente
- Ou então não saber coisa nenhuma
e embalar-me ao peito, simplesmente.


Rosa Lobato Faria

03 setembro, 2010

De um Amor Morto













De um amor morto fica
Um pesado tempo quotidiano
Onde os gestos se esbarram
Ao longo do ano

De um amor morto não fica
Nenhuma memória
O passado se rende
O presente o devora
E os navios do tempo
Agudos e lentos
O levam embora

Pois um amor morto não deixa
Em nós seu retrato
De infinita demora
É apenas um facto
Que a eternidade ignora


Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia"

28 agosto, 2010

Intimidade














No coração da mina mais secreta,
No interior do fruto mais distante,
Na vibração da nota mais discreta,
No búzio mais convolto e ressoante,

Na camada mais densa da pintura,
Na veia que no corpo mais nos sonde,
Na palavra que diga mais brandura,
Na raiz que mais desce, mais esconde,

No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão, decifro a causa
De querer e não crer, final, intimidade.


José Saramago

16 agosto, 2010

A Saudade que Dói...












Trancar o dedo numa porta, dói...
Bater com o queixo no chão... dói...
Torcer o tornozelo... dói...
Um tapa... um soco... um pontapé... doem...
Dói bater a cabeça na quina da mesa.
Dói morder a língua...
Dói cólica... cárie e pedra no rim...

Mas o que mais dói é a Saudade!

Saudade de um irmão que mora longe...
Saudade de uma cachoeira da infância...
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais...
Saudade do pai que morreu...
Do amigo imaginário que nunca existiu...
Saudade de uma cidade...
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa...

Doem essas saudades todas!

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama...

Saudade da pele...
Do cheiro... Dos beijos...
Saudade da presença e
até da ausência consentida.

Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem,
mas sabiam-se lá.

Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade,
mas sabiam-se onde.

Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo,
mas sabiam-se amanhã.

Contudo, quando o amor de um acaba ou torna-se menor,
ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é basicamente não saber...

Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio...
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia...
Não saber se ela ainda usa aquela saia...
Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista como prometeu...
Não saber se ele tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupado...
Se ele tem assistido às aulas de inglês...
Se aprendeu a entrar na internet e a encontrar a página do Diário Oficial...
Se ela aprendeu a estacionar entre dois carros...
Se ele continua preferindo Malzebior...
Se ela continua preferindo suco...
Se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor...
Se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados...
Se ele continua cantando tão bem...
Se ela continua detestando o Mc Donald's...
Se ele continua amando...
Se ela continua a chorar até nas comédias...

Saudade é não saber mesmo!

Não saber o que fazer com os dias que ficaram compridos...
Não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento...
Não saber como frear as lágrimas diante de uma música...
Não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche...

Saudade é não querer saber
Se ela está com Outro...
E ao mesmo tempo querer...

É não saber se ele está feliz
E ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...

É não querer saber se ele está mais magro...
Se ela está mais bela...

Saudade
É nunca mais saber de quem se ama
E ainda assim doer!

Saudade...
É isso que senti enquanto estive escrevendo
E o que você provavelmente está sentindo
agora que acabou de ler...


Miguel Falabella

09 agosto, 2010

Ausência...

Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua.

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.


Sophia de Mello Breyner Andresen

01 agosto, 2010

Bem devagar...










Sem correr
Bem devagar
A felicidade voltou p'ra mim
Sem perceber
Sem suspeitar
O meu coração deixou você surgir
E como o despertar depois de um sonho mau
Eu vi o amor sorrindo em seu olhar
E a beleza da ternura de sentir você
Chegou sem correr
Bem devagar

Amor velho que se perde
Sai correndo para outro ninho
Amor novo que se ganha
Vem sem pressa, vem mansinho
Caetano Veloso

20 junho, 2010

José Saramago - sobre "As Intermitências da Morte"


Sim, a morte do outro é lógica e natural e necessária. A nossa própria morte é uma injustiça tremenda, uma partida que nos pregam. É como se eu, por não me sentir velho, não o fosse, e pensar que nada do que vem de negativo com a velhice me pudesse tocar. É uma estupidez minha, porque chegará o momento em que tudo isso me tocará.

25 maio, 2010

Apesar das ruínas e da morte


Apesar das ruínas e da morte,

Onde sempre acabou cada ilusão,

A força dos meus sonhos é tão forte,

Que de tudo renasce a exaltação

E nunca as minhas mãos ficam vazias.

Sophia de Mello Breyner Andresen

02 fevereiro, 2010

"O Dia em que te esqueci..."


E tu foste muito importante, porque te amei sem restrições nem limites, aceitando-te com todos os teus defeitos, perdoando os teus reveses mais vezes do que seria recomendável, encolhendo os ombros às tuas hesitações, esperando sempre que um dia deixasses de ter medo de ser feliz e arriscasses uma mudança na tua vida. Para isso seria preciso que o desejasses, que considerasses que tal mudança te faria mais feliz, te poderia trazer algo que te faz falta, e disso, meu querido, não tenho a certeza.
É preciso encontrar lugar para o amor na nossa vida, é preciso dar-lhe espaço e tempo, é preciso ser humilde e corajoso, não ter medo de investir, e arriscar, mesmo sem nunca saber o que o futuro nos reserva. A proximidade com a morte libertou-me de muitos medos: já não tenho medo de morrer, nem que os meus planos falhem.

Margarida Rebelo Pinto

19 janeiro, 2010

Depoimento



Não há céu que me queira depois disto,

Nem deus capaz de ouvir-me.

Um homem firme

É firme até no céu,

E até diante

Do Criador!

É o que eu diria se, ressuscitado,

Fosse chamado

A depor!
Miguel Torga

05 setembro, 2009

Fallaste, corazón...




















Y tú, que te creías
el rey de todo el mundo;
y tú, que nunca fuiste
capaz de perdonar,
y cruel y despiadado
de todo te reías,
hoy imploras cariño,
aunque sea por piedad.

¿A dónde está tu orgullo,
a dónde está el coraje?
¿Por qué hoy, que estás vencido,
mendigas caridad?
Ya ves que no es lo mismo
amar que ser amado.
Hoy, que estás acabado,
¡qué lástima me das!

¡Maldito corazón!
Me alegro que ahora sufras,
que llores y te humilles
ante este gran amor.

La vida es la ruleta
en que apostamos todos
y a ti te había tocado
nomás la de ganar.
Pero hoy tu buena suerte
la espalda te ha volteado.
¡Fallaste, corazón!
No vuelvas a apostar.

Ángel Parra