30 janeiro, 2008

Lembrança Alada



Em alguma vida fui ave.

Guardo memória

de paisagens espraiadas

e de escarpas em voo rasante.

E sinto em meus pés

o consolo de um pouso soberano

na mais alta copa da floresta.

Liga-me à terra

uma nuvem e seu desleixo de brancura.

Vivo a golpes

com coração de asa

e tombo como um relâmpago

faminto de terra.

Guardo a pluma

que resta dentro do peito

como um homem guarda o seu nome

no travesseiro do tempo.

Em alguma ave fui vida.

Mia Couto