17 outubro, 2006

Tenho saudades... se tenho...















Tenho saudades dos beijos e abraços que não te dei. E dei-te tantos.
Da urgência da conversa que teríamos inevitavelmente a qualquer pretexto.
Da forma terna e orgulhosa como me olhavas sempre. Nunca mais na vida ninguém me olhará assim.
Ultimamente, os teus olhos enchiam-se muitas vezes de lágrimas - e eu por pudor, fingia que não reparava.
Sei agora que também tu, pressentindo o fim, antecipavas a falta que me irias fazer.
Antecipavas as minhas lágrimas e o nó na garganta, do pássaro preso que é a tua ausência.
Guardo com mágoa todas as palavras que não te disse. Todas as palavras de amor que não te disse me parecem muito mais importantes do que todas aquelas que juntos celebrámos.
E foram tantas.
No outro dia em tua casa, tropecei na tua ausência, caí e doeu-me tanto, tanto.
Encontrei um molho de cartas para mim. E canções para a pequenina. A nossa poesia, ali, dentro de uma pasta de papel reciclado. Declarações do teu amor, avô, às quais nunca poderei responder. Não estás cá.
Não estás cá.
Tenho tantas saudades tuas.
As lágrimas que tu antecipavas, pressentindo o fim, vieram nas asas do pássaro viver em mim.
E a poesia terá de renascer das saudades de todos os beijos e abraços que não te dei.

Rita Ferro Rodrigues

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