11 dezembro, 2007

Canção contra o destino


Se é para morrer

quero morrer muitas vezes,

mais do que as que soube ter vivido

e fui eterno sem o saber.

Se é para morrer

morrerei tantas vezes

que entre corpo e tempo

minha alma perderá caminho.

E morrerei

de tudo, em cada instante.

Morrerei até de ser árvore,

renascendo em estação

para além do tempo, para além da luz.

Se é para morrer

que seja de amor:

tanto e sempre

que não será derradeira a última vez.

Mia Couto

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