20 julho, 2007

Fazes-me falta...


"Contigo eu podia ir sendo tudo o que tinha para ser, antes e depois e à margem desse trabalho de ser homem. Ser e não ser teu amigo, por exemplo. A partir dos trinta anos, desabituamo-nos de olhar para as pessoas que se cruzam connosco. Como se disséssemos: inscrições fechadas. Na infância, bastava um miúdo gostar do mesmo bolo que nós para lhe perguntarmos: «Queres ser o meu melhor amigo?». Depois deixa de haver o melhor - entramos na idade das equivalências. Mas para ti houve sempre o melhor e o pior. Pois é, Sininho, eu penso demais, mas tu sempre julgaste demasiado. Acreditavas na virtude, fazias discursos sobre a coragem e a generosidade, a dignidade e a humanidade. Os meus amigos achavam-te ingénua, cansativa e ingénua. Eras cansativa, sim, mas precisamente por não perderes tempo a tropeçar na ingenuidade. Levavas até ao fim os teus julgamentos, tão cruéis e injustos, às vezes, apenas para desbravares mais depressa o sentido da vida".

Inês Pedrosa, Fazes-me Falta

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