29 agosto, 2006

Será possível?


A primeira vez que senti de perto a garra do terrorismo foi depois do atentado contra a Direcção-Geral da Guarda Civil de Madrid. (...) Quando cheguei ao local, a cena era dantesca. O corpo de uma mulher de idade estava estendido no chão. Os veículos estavam destroçados. Informaram-me sobre o número dos feridos; entre eles havia um menino de pouca idade que tinha sido enviado para o hospital. Faleceu no dia seguinte. Foi a primeira criança, Luis Delgado, cujo cadáver levantei num atentado da ETA.
Quem me conhece diz que mantenho a calma nas situações-limite, sobretudo quando enfrento a morte. É verdade, mas há algo que não consigo superar, por muito que o tente: a morte de uma criança. A verdade é que aquele dia ficou-me marcado, como todos aqueles em que fui obrigado a levantar o cadáver de um menino ao longo dos vinte e quatro anos que exerço como juiz. Esta sensação de desamparo e frustração voltei a experimentá-la por altura dos atentados terroristas de 11 de Março de 2004 em Madrid, ao ver os cenários dantescos, com os cadáveres espalhados pela estação de Atocha.
Que justificação pode ter a violência quando vês os olhos abertos, surpreendidos ou inertes no corpo sem vida de uma criança? Que explicação podem dar esses miseráveis mercenários do terror que dispõem da vida alheia como se se tratasse de algo próprio ou de algo sem valor?

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