19 dezembro, 2005



Não tocar na terra,
deixá-la imutável na presença temporal.
Não tocar em velhos fantasmas,
deixá-los permanecer em baús cobertos de pó no sótão.
Não tocar no sol,
deixá-lo brilhar por entre o sol cadente.
Não tocar na lua,
deixá-la intacta no conforto das estrelas.
Não tocar na ordem,
deixá-la cegar os contemporâneos defuntos.
Não tocar nos vícios,
deixá-los propagar sem discriminação.
Não tocar na verdade,
deixá-la perdida no meio da mentira.
Não tocar na luz,
deixá-la muda e absurda na escuridão.
Não tocar no calor,
deixá-lo derreter os ossos do esqueleto fértil.
Não tocar na civilização,
deixá-la apoderar-se da fecundidade infinita.
Não me toquem,
deixem-me iludir pela minha própria sombra...

Filipe Lamelas

1 comentário:

Anónimo disse...

Oba...

Não sem quem és... mas gostava de saber como tiveste acesso a este poema?