07 outubro, 2005

O Frio da Navalha



Fecha a janela
e vê como a memória também tem
As suas frestas
Por onde passa o dia mais além
Como as nuvens sem arestas

Fecha a janela
E vê nesse retrato pendurado
O teu sorriso
O fundo está um pouco desfocado
Mas é tudo o que é preciso

Fecha a janela
e guarda deste dia um recorte
Arredondado
Separa os sonhos e leva o mais forte
Para dormir a teu lado

Depois é dia
No espelho a outra face da medalha
A despontar
Ao golpe frio e falso da navalha
Acordas de par em par

Tapa-se a ferida, esconde-se o rasto
De tudo o que nos faz sofrer
A ligadura esconde por baixo
O sangue quente a correr

João Monge

Sem comentários: